GEORGE TOWN - As Ilhas Cayman, arquipélago caribenho de três ilhotas entre Cuba e Jamaica, ainda carregam o estigma de paraíso fiscal. Mas, logo ao chegar, nota-se que a riqueza local está, na realidade, estampada nas ruas limpas, no ambiente seguro, nas belas praias e em outras atrações. Considerada um dos melhores destinos para mergulhadores, a colônia inglesa se intitula um Caribe mais sofisticado. É possível nadar ao lado de arraias-prego em seu habitat natural. Há hotéis de luxo, lojas de grife e mais de 150 restaurantes, de inspiração italiana, espanhola, japonesa, entre outras. Não é à toa que a capital, George Town, e a praia Seven Mile, na costa oeste de Grand Cayman, figuram entre os melhores destinos do Caribe listados no Travellers’ Choice 2012 do site TripAdvisor.
Os turistas de língua inglesa — americanos, canadenses e britânicos — são maioria entre o 1,5 milhão que Cayman recebe anualmente, mas o arquipélago quer diversificar a nacionalidade dos visitantes. E o Brasil é mercado promissor. Mas o local é ainda um destino turístico pouco conhecido dos brasileiros: em 2011, apenas 681 visitaram o arquipélago.
A maior parte dos turistas em Cayman desembarca de cruzeiros. O voo de Miami a Grand Cayman, a maior das três ilhas, dura uma hora. O pequeno aeroporto, que mais parece um grande chalé, exibe um painel onde se lê: “The door to paradise” (“A porta para o paraíso”).
Com 259 km², as três ilhas apresentam o melhor índice de qualidade de vida do Caribe, com 98% da população alfabetizada e a 14ª maior renda per capita do mundo. Dos 55 mil habitantes do arquipélago, 53 mil vivem em Grand Cayman. Outros dois mil moram em Cayman Brac, onde há cavernas que podem ser exploradas pelos visitantes. Já a menor das irmãs, a Little Cayman, tem só 200 moradores — número menor do que o das aves do local.
Grand Cayman é o quinto maior centro financeiro do planeta. Diz a lenda que, no século XVIII, uma frota de dez navios da Coroa britânica naufragou em recifes caribenhos. Devido à ajuda dos caymaneses no resgate de tripulantes, o rei George III teria determinado que livraria aquelas terras de impostos. Verdade ou não, ninguém paga certos tributos, estrangeiro ou residente. Eis o paraíso fiscal. Nas Ilhas Cayman, existem 224 bancos e 127 fundos licenciados.
As ilhas foram descobertas por Cristóvão Colombo em 1503, quando o arquipélago foi batizado de Las Tortugas. Conta-se que, pela quantidade de tartarugas, o local parecia coberto por rochas. E a referência tornou-se tradição. A Turtle Farm (Fazenda das Tartarugas) é um parque com mais de 16 mil tartarugas marinhas.
Pelo mar: submarino com vista panorâmica
O grande chamariz turístico de Cayman é a Stingray City, um enorme banco de areia com dezenas de arraias-prego. Pegue um barco e siga em direção ao alto-mar. Leve seu snorkel e comece uma aventura única. Os animais, que parecem acompanhar com seus corpos as suaves ondas azuis, passam por você sem preocupação. É só tomar cuidado com o ferrão, na ponta da cauda. Crianças, jovens, idosos, todos no barco tentam interagir com os animais. Há quem diga que dar um beijo em uma arraia dá sete anos de sorte. Numa segunda parada do barco, pode-se mergulhar para conferir recifes de corais e peixes coloridos.
O mergulho com as arraias-prego em Grand Cayman foi descoberto ao acaso. Em 1951, o capitão de um barco percebeu que um grupo desses animais marinhos sempre ia se alimentar no mesmo banco de areia onde pescadores depositavam restos de peixes e crustáceos. Com o tempo, dizem, as arraias criaram uma relação de amizade com a tripulação, e algumas delas até ganharam nomes. Surgiu então a ideia de aliar o turismo aos animais mansos.
Em 1957, o arquipélago foi reconhecido como o berço do mergulho esportivo no Caribe. As ilhas contam com uma variedade surpreendente de corais. Os pontos de mergulho são de fácil acesso aos interessados.
Em Little Cayman, o visitante encontra, além de tranquilidade e de poucas pessoas, o Bloody Bay, um paredão de corais que chega a 1,5 quilômetro de profundidade.
No mar de Cayman Brac é possível desvendar os mistérios de um destróier russo feito na então União Soviética para operação em Cuba. Os mergulhadores exploram a fragata de cem metros de comprimento, tendo acesso ao lançador de mísseis e às torres de metralhadoras. O naufrágio ocorreu em 1996, e algumas espécies fizeram da embarcação o seu habitat, como uma garoupa chamada Boris e uma moreia verde, a Charlie. Já em Grand Cayman, um navio americano foi afundado com o propósito de se transformar em atração subaquática. Fica a 20 metros da orla e a quatro metros e meio de profundidade.
Para quem quiser passar mais tempo observando o universo sob as águas claras, o centro de mergulho Eden Rock, em George Town, também oferece um lugar na costa para snorkeling. Há visitas aos recifes Eden Rock e Devil’s Grotto. Os preços vão de US$ 11, para o snorkel com máscara e nadadeiras, até US$ 400 para o mergulho com certificado.
Ao cair da tarde, a hora de ingressar num submarino se aproxima, para um passeio noturno. Submergindo a mais de cem pés — cerca de 30 metros — observa-se a vida marinha. Com a iluminação da embarcação, dá para aproveitar cada detalhe, mesmo à noite. Os recifes de corais da região são riquíssimos. Um instrutor dá as coordenadas e você parece estar realmente em outro mundo, com algas a bailar sincronizadas em meio a peixes curiosos. O passeio, que também pode ser feito de dia, vale, sobretudo, para quem não mergulha mas quer ver de perto a vida marinha.
Em terra firme: Cemitério na praia, tartarugas e ‘tax free’
Não se espante se você encontrar túmulos nas areias de Cayman. Até porque eles não são nem um pouco macabros. As lápides costumam ficar beirando as praias, sempre muito floridas. A cultura nasceu da ideia de evitar usar áreas mais produtivas para cemitérios. A Cemetery Beach, por sinal, é uma praia de beleza única em West Bay. Com snorkel, dá para conferir cardumes passando próximo aos seus pés, ali, bem pertinho da orla.
E praia exuberante é o que não falta no arquipélago. A Seven Mile Beach, de longa extensão de areia branca, é considerada uma das mais belas da região. Localizada também na costa ocidental de Grand Cayman, é passagem indispensável para os turistas, e no fim de tarde, o pôr do sol é imperdível.
Um dos destinos preferidos de moradores e turistas é o Rum Point, praia no norte da ilha que oferece esportes náuticos como caiaque e jet ski. Ali também se pode aproveitar uma tarde de sossego à sombra de uma árvore, numa das redes espalhadas pela praia, tomando um drinque. Kaibo é outra praia localizada ao norte que vale visitar e, por ter águas mais profundas, permite a atracação das embarcações bem perto da costa.
A Turtle Farm, em West Bay, é outro passeio que se faz em terra e que é um sucesso. É um grande parque marinho, onde um instrutor dá as informações sobre as tartarugas marinhas de variados pesos e medidas, crocodilos e até os tubarões que ficam num aquário. Lá também é possível fazer snorkeling, num tanque que fica ao lado do restaurante.
Numa ilha onde o trânsito flui na mão inglesa, o museu do carro é um passeio que atrai até quem não é aficionado por veículos. O empresário Andreas Ugland quis um lugar para expor sua exótica coleção de carros e motos e criou o Cayman Motor Museum, em West Bay. O museu exibe Ferraris e Rolls-Royces, entre outras máquinas. Algumas curiosidades são um automóvel que transportou a rainha Elizabeth em passagem pela colônia britânica e o primeiro carro caymanês — um Cadillac de 1905. E um dos mais impressionantes modelos é o verdadeiro carro de um super-herói: um batmóvel autêntico usado em um dos filmes do Batman. Para conferir as relíquias, os adultos pagam US$ 15, e as crianças, a metade. O local abre de segunda-feira a sábado, das 9h às 17h.
O centro de George Town é um reduto de vendas de produtos tax free (sem impostos). Bolsas, relógios e perfumes são os carros-chefe. O destaque é a loja Kirk Freeport, espécie de free shop, onde estão concentradas 36 marcas, como Patek Philippe, Rolex, Cartier e Mont Blanc. No centro, também vale uma visita a La Casa Del Habano, tradicional charutaria, onde se encontra também bebidas, sem faltar o rum.
Idealizada nos anos 80, o Camana Bay, perto da Seven Mile Beach, é ideal para um passeio a pé. A construção começou em 2005. A partir dali, foi lançado um misto de lojas, restaurantes, escritórios, cinemas e apartamentos para morar. Há também campos de golfe e uma torre de observação com 360° de vista de Grand Cayman. A empresa que criou a iluminação do quadro da Mona Lisa, exposto no Louvre, em Paris, assina o jogo de luzes do espaço. Para o happy hour por ali, o Karoo é um bar descolado, com as mais diferentes bebidas e snacks. O camarão acompanhado de molho à base de mel é dos deuses.
A culinária local tem ganhado destaque. Os frutos do mar, sempre frescos, inspiram os chefs em saborosas receitas. O molusco conch, de carne branca, desfiada, é a cara do lugar. Na ilha, há o costume de se preparar arroz e feijão juntos. E há os pratos jerk, marinados com especiarias, ervas e pimenta-da-jamaica. Tente o Agua, na Seven Mile Beach, com serviço de bufê com pratos quentes e frios. Em outro restaurante, Macabuca, de frente para o mar em West Bay, a chicken jerk é uma delícia.
Para um cardápio mais internacional, há os italianos Pappagallo, em West Bay, e o Edoardo’s, em George Town, onde a entrada de cogumelos e o prato principal linguini al gamberi — umas das sugestões da casa — são ótimas opções. Para fãs da comida asiática, há o Karma, na Seven Mile Beach.
O Blue, no Ritz-Carlton, comandado pelo chef-celebridade francês Eric Ripert, que também dirige o Le Bernardin, em Nova York (três estrelas no Guia Michelin), é o único da ilha onde não se pode entrar de bermuda. O menu degustação de sete pratos custa em torno de US$ 150. O Cayman Cookout — com a participação de chefs do mundo todo convidados por Ripert — e o Taste of Cayman, que acontecem em janeiro, são eventos tradicionais no restaurante.
Para quem quiser algo mais em conta, a ilha oferece uma saborosa comida caseira. No Vivine’s Kitchen, no ponto leste de Grand Cayman, os clientes podem apreciar sopas, peixes, carnes — disponíveis também no tradicional estilo jerk — diante do mar caribenho. As refeições não passam de US$ 12.
As noites de sexta-feira são animadas. Ao lado do Edoardo’s, há o lounge Barolo. Na ilha, há duas boates: a Elements e a Obar. No sábado, os serviços terminam mais cedo, pois domingo é dia de ir à igreja para boa parte dos moradores.
Serviço: